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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

A Trova no Pará

Texto de Antônio Juraci Siqueira


Para início de prosa, o que foi dito sobre a introdução da trova no Brasil aplica-se, também, no caso do Pará, ou seja: também é herança portuguesa, com certeza, que aqui ganhou cores e sotaques marajoaras e é encontrada fartamente nas manifestações populares, quer como letra de músicas folclóricas, quer como quadra solta usada nos desafios da “desfeiteira” ou no “jogo de versos”. Além disso muitos poetas paraenses a compuseram com mestria, entre estes podemos citar De Campos Ribeiro, Jaques Flores, Rodrigues Pinagé e Antonio Tavernard. Desse último, lembro-me desta bem ao seu estilo:
Sol doente, sol de Agosto,
morrendo como uma flor.
Eu também sou um sol-posto
no ocaso da minha dor.
Entre os intelectuais que difundiram da trova no Pará merece destaque o estudioso José Coutinho de Oliveira (1887 – 1965) por sua contribuição tanto no cultivo quanto na divulgação da trova através da imprensa. Folclorista e fundador da Comissão Paraense de Folclore, entidade que presidiu por vários anos, José Coutinho de Oliveira deixou, entre suas obras inéditas, “TROVAS E CANTIGAS”, coletânea de trovas populares colhidas no meio popular, além de haver publicado, por vários anos, no jornal A Província do Pará, as colunas: “Trovário da Saudade” e “Trovas Amazônicas” onde, ao lado de trovas de autores diversos e trovas populares anônimas, publicava composições de sua lavra, como esta, por exemplo:
Muita gente, ao longe, é tida
como um sol em céu escampo,
mas quando vista de perto,
não passa de um pirilampo.
Na revista “Voz de Nazaré” publicou, por algum tempo, “Trovas Evangélicas” tendo, ainda, colaborado com várias revistas e jornais de Belém e de outras localidades, além de manter correspondências com intelectuais da época, entre eles o grande folclorista Luiz da Câmara Cascudo e Luiz Otávio, fundador da União Brasileira de Trovadores. Faleceu em Belém no dia 6 de Junho de 1965, um ano antes da fundação da UBT.
Com a fundação da União Brasileira de Trovadores em 21 de Agosto de 1966, foram nomeados coordenadores regionais e delegados municipais em todo o Brasil, ficando o trovador Pedro Tupinambá como coordenador da região Norte e o poeta e cronista Georgenor Franco como delegado em Belém. Mais tarde as coordenadorias foram substituídas pelas assessorias, tendo o cearense Santiago Vasques Filho assumido a Assessoria do Norte-Nordeste e Pedro Tupinambá substituído Georgenor Franco na delegacia de Belém. Foram criadas, ainda, delegacias nos municípios de Alenquer e Santarém, sendo delegados, respectivamente, Antonio Aldo Arrais e Orlando Borba.
Em 1969, Pedro Tupinambá, acadêmico, folclorista e Coronel Médico da Aeronáutica, iniciou a publicação da coluna dominical “No Mundo da Trova”, em “A Província do Pará” mantendo-a, ininterruptamente, por 21 anos, prestando, com isso, inestimável serviço à trova e aos trovadores que, após a morte de José Coutinho de Oliveira, passaram a ter, novamen- te, um espaço para a divulgação da trova e informações sobre os concursos e jogos florais.
Em 1984, estando eu participando do encerramento dos VIII Jogos Florais de Fortaleza como um dos vencedores desse certame, conheci o assessor da UBT para o Norte-Nordeste, poeta Santiago Vasques Filho que após falar de seu projeto para a expansão da UBT no Norte e Nordeste, ofereceu-me a Delegacia de Belém, em substituição a Pedro Tupinambá, com a expressa missão de fundar a primeira seção da UBT no Norte do Brasil, proposta por mim recusada na mesma hora.
Vasques Filho, contudo, voltou a escrever-me sobre o assunto, argumentando que após a fundação da UBT-Belém, Pedro Tupinambá seria nomeado presidente de honra pelos serviços prestados à trova e aos trovadores. Após várias investidas, contando, inclusive, com a aprovação do presidente nacional da UBT, Carlos Guimarães e o apoio de vários trovadores, entre eles o presidente da UBT-Fortaleza, Fernando Câncio, acabei nomeado no dia 4 de Dezembro de 1985, fato que não foi bem absorvido por Pedro Tupinambá que em artigo assinado em sua coluna anuncia seu desligamento da UBT. Sem alternativas, assumi a missão a mim confiada e fundei, com o aval de 23 trovadores e amigos da trova, no dia 4 de Fevereiro de 1986, a União Brasileira de Trovadores – Seção de Municipal de Belém, sendo eleito presidente e reeleito por três mandatos consecutivos até Janeiro de 1993 quando a poeta e artista plástica Cláudia Cruz assumiu a presidência cumprindo o mandato de dois anos e passando o cargo para Alonso Rocha, membro da Academia Paraense de Letras e Príncipe dos Poetas Paraenses, que comandou os destinos da nossa entidade até seu falecimento ocorrido no dia 23 de fevereiro de 2011.
Alonso Rocha, emérito sonetista e trovador talentoso, já com vários prêmios nacionais em Concursos de Trovas e Jogos Florais, a exemplo de José Coutinho de Oliveira e Pedro Tupinambá, também manteve, por um certo tempo, uma coluna no jornal “A Província do Pará” denominada “Recanto dos Trovadores” onde divulgava a trova, os trovadores do Pará e de outros estados, além de manter os concursos nacionais de trovas da UBT-Belém, realizados anualmente.
(Os dados sobre José Coutinho de Oliveira foram fornecidos por sua filha, senhora Maria Madalena de Oliveira Rebelo)
PS.: Após a morte de Alonso Rocha, a trovadora Sarah Rodrigues assumiu a presidência da UBT-Belém mas, creio que por falta de tempo, não foi dado continuidade às reuniões nem aos concursos de trovas.

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